segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Sinantropia

Limpava seu lixo e seus cabelos
Lhe fazia compania
Quebrava o silêncio da noite

Não ligava para os seus crimes
Não ligava para sua índole
Não se importava com a miséria ou fracasso
que ele se encontrava

Com o tempo passou a amá-la
Com o tempo a fome aumentou
Pegou-lhe delicadamente nas mãos
Sentiu aquele corpo em seus dedos
Se excitou

Sussurrou em seu ouvido, se desculpou
Passou o rosto naquelas costas lisas
Tocou-a em seus lábios e em sua língua
Colocou na boca e a mastigou
Naquele êxtase de quitina e carne
ele descobriu

Barata é doce.

sábado, 3 de setembro de 2011

Tabula Rasa

(Para essa poesia, acesse o link: http://www.youtube.com/watch?v=vu1BcNeebMI e dê play, começe a ler depois do segundo 12)


No princípio era o verbo
Pensarexistir
E daí surgiu a curiosidade, e dela todo o resto...
o Big bang, o átomo, a matéria escura, o tempo e o espaço.

O pensarexistir continuou, e a curiosidade cresceu
E fez coisas belas e criou a vida, curiosa
A vida se fez crescer, evoluir e morrer
E essa beleza cíclica porém finita era mais curiosa.

Assim, Pensarexistir se fez crescer, evoluir
A curiosidade da beleza se fez crescer, evoluir
E, para saciá-la, curiosamente, suicidou.

Tudo o que ficara de curioso se fez
Evoluindo seguiu, ao acaso
Alguns bilhões de anos depois nasceu o homem...

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Aquela manhã comum

_O ônibus era o mesmo, 857P, do qual João sempre descia no mesmo ponto, o da Ana Rosa. Houve um tempo em que João apertava despreocupadamente o botão de parada, e percebia que alguém já o fizera antes, fazendo com que o seu aperto fosse em vão, desnecessário. Com o decorrer da rotina e dos apertos vãos João simplesmente deixou de se preocupar em apertar o botão.
_Aquela estava sendo uma manhã comum, despertar, levantar, café... foi então que o ônibus não parou no ponto da Ana Rosa. João e tantas outras pessoas já estavam posicionados em frente à porta para descer ao abrir da mesma, que não abriu. E o 857 simplesmente passou direto.
_Houve um grande rebuliço. As pessoas começaram a reclamar com o motorista, com o cobrador, que aquilo era um absurdo, que ia ter que andar, que perderia a 1a aula, que chegaria atrasado no trabalho e teria que se explicar com o chefe... foi quando o motorista falou: "Ninguém apertou o botão! Se não aperta o botão a luzinha não acende e o treco não apita, e se a luzinha não acende e o treco não apita eu não paro o ônibus!" Naquele momento houve um silêncio geral e todos ficaram ali, cada um, pensando que realmente não apertara o botão, nem vira a luzinha acender nem ouvira o treco apitar.
_Naquela manhã comum, contra todas as probabilidades, todos os passageiros que iam descer no ponto da Ana Rosa resolveram não se preocupar com o botão e, assim como João, se abstiveram de apertá-lo, esperando que alguma outra pessoa o fizesse.
_Depois de alguns segundos de reflexão um passageiro rompeu o silêncio do interior do ônibus e falou para o motorista: "Mesmo assim, todos os dias a gente desce nesse ponto! O senhor poderia ter um pouco de bom senso e ter parado na Ana Rosa, né?!" e assim o rebuliço recomeçou e foi aumentando e aumentando...
_Com a quebra da rotina e vendo uma certa comicidade no fato, os passageiros que desceriam no ponto seguinte ao da Ana Rosa ficaram tão entretidos que esqueceram, por sua vez, de apertar o botão de parada. Novamente, contra todas as probabilidades, nenhuma alma viva que desceria naquele ponto apertou o importante quadrado laranja. Foi então que todos viraram a cabeça e acompanharam o ponto seguinte ao da Ana Rosa passar pelas janelas e o cômico tornou-se desespero. O estresse acumulado de ter que andar a distância de um ponto foi multiplicado por 3, pois os primeiros passageiros agora teriam que andar a distância de 2 pontos, e os segundos a distância de 1 somando assim o incrível estresse de 3 pontos no geral.
_Foi uma guerra...

_Depois do "trágico episódio do 857", como foi chamado o acontecimento pelas empresas de tranporte público urbano, micro-câmeras foram instaladas no interior dos ônibus para que se pudesse monitorar os passageiros e suas respectivas paradas. Fiscais trabalham secretamente, durante todo e expediente dos ônibus, em uma sala subterrânea na sede do Detran paulista evitando que tamanha tragédia aconteça novamente.
_O fato é negado por todas as empresas de ônibus e pela prefeitura de São Paulo, o mesmo não foi noticiado nem mesmo no Jornal Hoje, no entanto quando os Fiscais do Transporte e do Bem-estar dos Passageiros Paulistanos (FTBePP) pedem aumento de salário (que, diga-se de passagem, já é altíssimo devido a confidencialidade de seus empregos) podemos ver o impacto orçamentário refletido no aumento da passagem dos ônibus, que sempre são mal explicados e mal justificados para encobrir o fato.
_Jõao, o único sobrevivente do "trágico episódio do 857" foi chamado para ser o diretor geral do FTBePP.... e nunca mais deixou de apertar um botão.





Escrevo aqui apenas um adendo ao prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab.
Metrô não tem ponto e nem botão de parada!

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Mais um dia de metrô




Uma escada para a liberdade...








Uma propaganda enganosa...










Uma luz no fim do túnel...

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

A mão e a faca afagam o canto
Da boca do olho, o pranto
E a palavra deitada nas papas da língua
Sorri, desabrocha, mas não míngua
Pronta para nascer em outro sonho distante
Outro canto.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Pressa pra ler?

Pressa pra nascer
pressa pra acordar
pressa pra comer
pressa pra andar
pressa trabalhar
pressa pressa pressa pressa
pressa pressa pressa pressa
pressa pra parar
pressa pra comer
pressa pra respirar
pressa pra fumar
pressa trabalhar
pressa pra andar
pressa pra pagar
pressa pra sentar
pressa pra subir
pressa pra comer
pressa descansar
pressa pra tevê
pressa pra meter
pressa pra amar
pressa pressa pressa pressa
pressa pressa pressa pressa
pressa pra dormir
pressa pra levantar
pressa pra sorrir
pressa pra viver
pressa pra cantar
pressa pra assobiar TAXI!
pressa pressa pressa pressa
pressa pressa pressa pressa
pressa pra chorar
pressa pra enterrar
pressa pra ensinar
pressa pra curtir
pressa pra crescer
pressa pra falar
pressa pra vestir
pressa pra votar
pressa pra tingir
pressa pra sentir
pressa pra gemer
pressa pra olhar
pressa pressa pressa pressa
pressa pressa pressa pressa
pressa pra cheirar
pressa pra discutir
pressa pra trepar
pressa pra morrer
pressa pra ganhar
pressa pra receber
pressa pra beber
pressa pra amar
pressa pra sonhar
pressa pra rezar
pressa pra fechar
pressa pressa pressa pressa
pressa pressa pressa pressa

apodrecer

A pressa é inimiga da mediocridade, Homo capitalis, e a perfeição é uma definição apressada de todas as maravilhas que varam nossos olhos como borrões e que não vemos pois estamos apressados demais.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Chiaroscuro

O sorriso da senhora
pela cena da novela
em um sábado à noite
O soluço da cadela
pela poça de água suja
em uma rua movimentada

O sorriso de uma cadela
pela cena de uma senhora
em um sábado de novela
O soluço de uma rua movimentada
pela noite de uma poça d'água
Suja