sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Ei, Luisinho! Vamos brincar de fazer contas?

Luisinho, imagine que você tem 100 bolinhas e alguém vem e tira umas bolinhas de você:
100 - 40 = 60 bolinhas
Aí, no ano seguinte, esse alguém vem e tira mais algumas bolinhas...
60 - 25 = 35 bolinhas
E no ano seguinte...
35 - 15 = 20 bolinhas
E no outro ano...
20 - 10 = 10 bolinhas
10 - 4 = 6 bolinhas
6 - 3 = 3 bolinhas
3 - 2 = 1 bolinha
1 - 1 = 0 bolinhas

Pois é, depois de 8 anos o cara te levou todas as bolinhas, e você fica triste com isso. Mas imagina também que no 2º ano o cara lhe diz que apesar de ter lhe roubado as bolinhas, pelo menos ele roubou menos do que no ano anterior, e diz ainda que no ano seguinte ele vai roubar menos ainda! Você se sentiria reconfortado, Luisinho? Pois é, então saia do mundo da imaginação e assista, sem contorto nenhum, o ministro Carlos Minc dizer na televisão que o desmatamento da Amazônia está diminuindo ano à ano.

"Saudações 'ecológicas' e 'libertárias' para você."

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Mais um feriado

_ 2ª Feira pós feriado da consciência negra, mas poderia ser uma 2ª pós qualquer feriado que as notícias seriam as mesmas. Folha de São Paulo, Estadão, Jornal Nacional, Jornal da Band, não importa... hoje as notícias não variam muito de um para o outro, todos falam do número de acidentes, mortos e feridos nas estradas. Mas esperem só para verem os jornais de amanhã, 3ª Feira, não haverá mais tanta informação sobre isso, e nos jornais de 4ª menos ainda e isso sabendo que muitas vítimas de acidentes morrem de complicações alguns meses depois do acidente.
_ Bom, na 6ª passada celebramos a consciência negra, e agora celebramos a falta de consciência nas estradas e as negras vestes nos funerais de 2ª.

Zumbi se orgulharia de nós.

Belorizonte | etnoziroleB

_ O ônibus hoje era o mesmo de sempre, nem muito cheio nem muito vazio, afinal, já passava das 8 da noite. A Avenida paulista era também a mesma, os carros, as luzes...
_ O túnel de acesso hoje era o mesmo do dia anterior, mas não era o mesmo de alguns meses atrás, quando os grafites ilustravam livremente suas paredes e faziam daquele pedaço do trajeto algo interessante, lúdico. Era Arte. Mas hoje e ontem aquela liberdade fora suprimida por grades negras grotescamente grandes em formato de letras incompreensíveis. Cada dia podia-se notar um detalhe novo ou interpretar diferentemente algum detalhe antigo... mas agora, aprisionados sob aquelas grades de piche transmitiam apenas o pesar dos artistas e apreciadores cotidianos.
_ A Dr. Arnaldo era hoje a mesma. As bancas de flores do lado direito do ônibus, tão comercialmente belas... quando se estica o pescoço para a janelinha dá até para sentir o cheirinho... mas hoje eu me sentei do lado esquerdo do ônibus e tive que me contentar com o relance das cores.
_ Mais um doutor, o Homem de Melo, era o mesmo... os alunos da PUC iam e vinham como sempre... aquelas calçadas daqueles quarteirões eram as mesmas e o portão, o prédio e o porteiro eram os mesmos...
... e quando eu entrei naquele mesmo elevador eu agradeci, com um bom suspiro, aos Orixás do tempo, à Buda e à Maria Madalena, por me olhar nos olhos naquele mesmo espelho e, apesar de tanta mesmisse, eu continuar ainda sendo o mesmo de sempre... só que melhor.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

O muro: 09/11/20??

Foto de Ana Letícia, visite: http://mineirasuai.blogspot.com/


_Quanto tempo faz, caro amigo, que não nos falamos? E o muro continua lá, onde se põe o sol.
_Poderia nessa mensagem ficar elocubrando as características do muro, como se conversássemos sentados lado a lado, você de um lado e eu do outro. Você falaria sobre ridícula engenharia, eu sobre a arquitetura tosca. Riríamos juntos.
_Mas na verdade, bom amigo, o que sinto quando me aproximo do muro é frio... não, não é nada sentimental ou espiritual não, e nem poderia ser, afinal, que tipo de muro tem sentimento ou espírito? Esse eu sei que não tem. O frio é por causa da sombra, aí eu imagino que, qualquer dia desses, poderíamos combinar de tomar sol juntos, ao meio dia, é claro...
_É, rapaz... enquanto lhe escrevo esse e-mail assisto na televisão uma reportagem sobre o Muro de Berlim e me ponho a pensar... será que algum dia cairá o muro aqui de casa? E o da sua?

Um abraço.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Ô, moço.

Já nem olho mais nos olhos dos mendigos que na rua cruzo para tentar não sentir mal ao negar-lhes as esmolas que carrego no bolso, na verdade quando cruzo aperto o passo e não olho nem para o espaço chão, pois é muito perto de onde eles geralmente estão. Sendo assim tento olhar no horizonte, não muito distante por causa dos prédios e carros, tentando fingir para eles que os ignoro e tentando me convencer que o "Moço" ou o "Senhor" que dizem em minha direção na verdade são para o moço ou senhor que atrás de mim caminha com a mesma intenção. Já nem me preocupo mais em escrever em versos e poematizar essas coisas pois nenhum poema é tão sujo ou belo suficiente para descrever qualquer miséria, tampouco faço espaços parágrafos ou pulo linhas para organizar outras idéias já que um texto monobloco há de ser mais preciso para demonstrar o caos que se passa dentro de mim quando sei que mesmo sem vê-los me julgam aqueles olhos que não olho mas vejo e se assim resolvo proseguir vejo que pontos finais e vírgulas são também inúteis aos olhos de quem vê que aquilo que se tenta ignorar não faz pausas nem pontos finais pois são muitas pessoas cruzando e passando muitos moços e senhores e algumas esmolas de culpa e pena caem por aí e minguam e rolam pela calçada e pela sarjeta e pela rua e pelo viaduto e pelo espaço e assim preenchem osespaçosdacidade
eimpedemquesevejaohorizonteeaquelepequenopedaçodocéuquevejonãoésuficienteparafazercomqueeurezeemesmoquefosseeunãorezariaporqueEUNÃOACREDITOEÉPORISSOQUE
___EU.
____ME.
_______NEGO.
_______A.
_______OLHAR.
____NOS.
____OLHOS.
__________DOS.
___________MENDIGOS.
___________QUE.
_______NA.
_____RUA.
___CRUZO!


..."MOÇO, VOCÊ tem um real pr..."
..
..
ufa!

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Charneca

_Ela fôra bela um dia.
_O princípio de calvice e a esclerose ainda não lhe tiraram da cabeça as memórias daqueles dias...
_Ah, aqueles dias... Ela quase podia sentir o cheiro, quase podia sentir o gosto tocar-lhe as papilas. Quase.
_E ela se lembrou do colégio... é! do colégio! Aqueles sete anos incríveis! Ah, a beleza... a beleza de seus gestos, do seu corpo... Ela se lembrou de quando os garotos não só se curvavam aos seus pés, mas sob seus pés. Sua beleza era impiedosa, como um arcanjo bruto caído dos céus semeava em cabeças juvenis o desejo que crescia com os hormônios da idade, ela sabia disso e se ria. Podia ver pelos olhos dos rapazes quais já tinham se masturbado pensando nela, e eram tantos! Aquele gozo, aquele poder!! Era como se sua femininidade urrasse!!! Ela correspondia aos olhares com uma singela mordida nos lábios inferiores e com aquele olhar.
_O olhar... se ela pelo menos se lembrasse como fazer aquele olhar... como mirar os olhos, como baixar de leve as pálpebras! Ela se esquecera. Ou isso, ou seus olhos perderam o brilho e suas rugas lhe pesaram as pálpebras e rasgaram-lhe a face. Ela pedia a Deus para que tivesse esquecido.
_Sete anos... sete anos durara seu reinado. Fôra eleita presidente da sua sala sem nem mesmo ter se candidatado, e fôra reeleita no ano seguinte mesmo tendo feito nada em prol dos seus súditos. Quando os professores lhe disseram que como presidente ela teria que tomar certas atitudes e responsabilidades para o bem de seus colegas, abriu mão do cargo e viu que era muito mais fácil ser primeira dama.
_Sempre pudera escolher seus garotos, seus namorados e até mesmo seu falecido marido. Sempre controlou a mente masculina como um gato controla seu dono. Ela escolheu seu primeiro beijo, seu primeiro amasso e à dedo escolheu, no último ano do colegial, o garoto, e numa noite de Sábado ela tirou a virgindade dele, e dela.
_E a formatura! O ápice da sua juventude! Uma última noite em que ela brindou com álcool e saboreou à bocadas largas sua juventude adoçada com aspartame.
_Foi aí que ela pensou: "Às vezes me arrependo... que tipo de pessoa tira a própria virgindade?"
_E quando passou por um buraco avistou seu ponto logo à frente, puxou bruscamente a cordinha e o motorista pisou forte no freio. Ela quase não conseguiu se segurar, andou até ele resmungando alto, tirou da bolsa a sua identidade amarela e desbotada e, com um gosto amargo no fundo da língua, mostrou-lhe para provar que, realmente, toda a sua beleza esvaeceu...

"E ainda faltam os três degraus..."


Título modificado em 11/05/2010, de Futil para Charneca.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

"Muito barulho por nada", pouco silêncio por muito


_ Singelamente escorreu a colherinha na beirada da xícara de café, e por alguns segundos ficou apenas olhando a espuma girar e ouvindo. Pensou no girar, pensou no mundo e numa galáxia... Olhou para o outro lado da rua e para o semáforo e pensou em física quântica e nos trilhões e trilhões de partículas que atravessavam ele e tudo e todos ao seu redor sem que percebêssemos... E então as mesmas conexões neurais que lhe fizeram ir embora o fizeram piscar, e lhe trouxeram de volta da física, da galáxia, do mundo, e por ali ele ficou... ouvindo...

_ Hoje, dia 11 de Setembro, são lembradas e repassadas na mídia as imagens daquele atentado terrorista contra o WTC em Nova Iorque, são repassadas aqueles e-mails toscos de correntes e de "numerologias" (11/9: 1+1+9=11, 11 é o número do mal!!! Se dependesse do Maluf e do Pitta, eu acreditaria), são feitos discursos novos sobre os mesmos fatos antigos que mais uma vez, em um ano de muito barulho, mereceram 1 minuto de silêncio.
_ Alguns chamaram de "o maior atentado terrorista de todos os tempos", eu discordo, para mim o maior foi aquele em que duas cidades inteiras foram riscadas do mapa e as futuras gerações dos sobreviventes riscadas com cicatrizes. Mas não quero mais comparar essas coisas, mesmo porque, não devem ser comparadas...
_ "Enquanto isso na sala de 'justiça'"...
_ É julgado no Brasil o caso de extradição(ou não) de um ex-terrorista italiano que matou quatro pessoas na Itália. Lá, na bota mediterrânea, dizem que ele é um criminoso comum e que por isso deve ser extraditado para lá ficar preso pelo resto da vida. Aqui, na galocha americana, dizem que não deve ser extraditado, pois é um criminoso político. Em um mundo onde criminosos comuns matam 4 e criminosos políticos seguem impunes, vamos falar de criminosos políticos...
_ "Enquanto isso na outra sala de 'justiça'"...
_ Todos sabem que os criminosos políticos no brasil gostam mesmo é de foder com os outros, todos sabem também que quem fode muito tende a ter muitos filhos... Pois é, é tanto parente de criminoso político vivendo no brasil e no exterior que há poucos cargos públicos aqui para empregá-los, então foi aprovada em primeiro turno a PEC que cria 7709 novos empregos para o cargo de vereador. No brasil 51.748 vereadores já estão empregados. Com sorte, quem sabe, a PEC não passe no segundo turno, mas para isso será preciso muita sorte...
Falando em sorte...
_ Como aqui na terra a sorte está em baixa, muitos querem mesmo é dar uma olhadinha lá pra fora, às vezes, com sorte se acha um lugar melhor para morar, por isso deram uma boa recauchutada no Hubble e liberaram fotos maravilhosas de coisas tão grandes e tão distantes que mesmo se quiséssemos, não seriamos capazes de destruir...
_ Falando em destruir coisas grandiosas e maravilhosas...
_ Aqui na américa das galochas o Sarney censura O Estado de São Paulo, o Hugo censura a televisão venezuelana e o Nestor e a Cristina tentam calar o Clarin... Mesmo sem aviões e bombas atômicas, terroristas e criminosos políticos tentam, e por vezes conseguem, riscar do mapa a liberdade de expressão e de imprensa.
_ Ufa! Falei tudo, e nem é mais dia 11. Boa sorte a todos and Gods bless Americas...

_ E ouvindo, tudo aquilo foi sugado e acabou quando a xícara lhe tocou os lábios e jogou para dentro todo aquele mundo, aquela galáxia e aquelas partículas.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Uau

Esses dias tive a oportunidade de adimirar pelo tempo de um semáforo o vôo sutil de um carniceiro um urubu que planava sobre o corpo de um mendigo vivo.
Foi lindo.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

A pele da puta (Epiderme)

A pele da puta sua
A pele da puta tem seu perfume
E o perfume de outros homens
A pele da puta tem seu suor
E o suor de outros homens
Pouco a pouco seu perfume vai embora com os outros
Mas seu suor não.

A pele da puta arroga ser a melhor pele da rua
A pele da puta arrega só ser paga depois de nua
A pele da puta arreganha outras peles contra a sua

A pele da puta preta
A pele da puta branca
A pele da puta feia
Da puta magra sem anca

A pele da puta manca, fraca
Da puta estuprada e cortada
Na ponta de faca
A pele da puta sua

Sua puta sua

A pele a puta freme ao primeiro
Ao segundo, ao terceiro...
A pele da puta brilha
Sem brilho não goza
O gozo do seu parceiro

Filho da puta

Filho da puta apela
A pele da puta o seio
A pele da puta apela
O seu filho o receio

A pele da puta sua
Vida perpetua
Da vida, crua e nua
Perpetua sua puta perpetua

Perpétua sua puta perpétua

A pele da puta fede
Da vida
A pele da puta fede
A esperança
A pele da puta fede

E a pele da puta fede tão forte
Que cada um com quem a puta mete
Fede à puta até a morte

domingo, 26 de julho de 2009

Descarga mental Capítulo 1

Chego em casa depois de um dia bom.

Acordei tarde (porque dormira tarde no dia anterior), tomei banho, lavei os cabelos, comi bolachas recheadas com um copo de leite no café, assisti televisão e por volta das 13:15 fui para um churrasco.

É quase meia noite e meia, o dia acabou cedo para um sábado. Estou ativo, acordado, mesmo com as pernas cansadas eu queria fazer alguma coisa, mas nessa noite chuvosa não há nada para fazer. Nessa cidade chuvosa, não há nada para fazer, com suas pessoas chuvosas. Tédio 1x0.

Ando até a varanda, encosto minha testa no vidro para ver se minhas plantas estão bem. Estão... mas não passa disso pois, olhar pela janela é ver um retrato estampado e assombroso do tédio que quer me dominar. Tédio 2x0.

Vou até a cozinha e pego um copo d’água. Tem louça para lavar, mas não vou lavá-la agora... Minha mãe a deixou lá e foi viajar com a esperança de que eu lave. Ela sabe que não gosto, mas sabe também que um dia quando eu morar sozinho terei que lavar minha própria louça e blá blá blá... Coisa de mãe. E o tédio faz mais um ponto.
Ficarei duas semanas sozinho em casa, sabe o que isso significa hoje? Quase nada. Poderei tocar guitarra com a porta aberta sem me preocupar com o volume, grande coisa... Em outros tempos isso significaria que eu poderia dar uma festa e até ganhar uma graninha com isso, eu poderia chamar uns amigos e amigas para fazer “coisas”, eu poderia fazer essas molecagens e me divertiria muito com isso, mas eu não sou mais moleque, hoje se eu quisesse dar uma festa, eu poderia, daria e arcaria com as conseqüências e danos que pudessem surgir, ou seja, que bosta! É engraçado como algumas coisas perdem a graça quando deixam de ser proibidas ou quando deixamos de ser inconseqüentes ou impulsivos... é quase engraçado pensar que quando eu era criança eu queria crescer rápido. E por esse pensamento quase que autodestrutivo; Tédio 4x0.

Minha mãe também me deixou algumas compras... Numa caixa estão um saco e pão (para eu fazer um lanchinho), uma caixa de cereal (para meu cafezinho da manhã) e por fim degradantes pacotes e miojo apontam uma suposta incompetência ou preguiça de me alimentar. Tédio 5x0.

Sento no sofá e ligo meu computador para tirar todos esses pensamentos grotescos da minha cabeça, mas o computador demora a ligar e eu faço a cagada. Ligo a TV. Tédio 6x0.

Assisto uma propaganda onde o que se vê são três decotes dentro de um carro que tem um cachorro quente gigante em cima andando no meio de uma floresta e no final um locutor fala espanhol e antes mesmo que eu possa dizer “que bosta!” passa uma propaganda de celular e logo depois uma de cerveja. Tédio 7x0.

Vou escrevendo e percebo que esse cenário todo está me dando sono. Tédio 8x0.

Vou assistindo o VT do jogo que eu sei que o meu time ganhou de apenas 1x0, o gol foi no 1º tempo, meu time está bem superior e eu ainda fico torcendo como um bocó para que as jogadas dêem certo. Ah se meu time jogasse tão bem quanto o tédio... Tédio 9x0.

E aqui está mais um episódio fatídico da minha via insólita, eu só não termino esse texto com um ponto final porque isso seria mais um ponto para o tédio
Eu 1x9 tédio

(quem sabe com esse final “feliz” eu me livro desse tédio)

quinta-feira, 18 de junho de 2009

BR - 230

O senado brasileiro é algo adimirável... para começar pela ilustre figura do presidente, José Sarney. Como foi que isso foi acontecer?! eu me pergunto sempre que eu vejo TV, Denovo?!?! eu me pergunto sempre que vejo aquele bigode.
Como é que no senado, onde já se proibiu o nepotismo, o presidente (que por sinal tem duas sobrinhas e um neto empregados lá dentro sem terem passado por concurso público, sendo que uma das sobrinhas mora na Espanha!) vem dizer que ele não tem nada a ver com crise do senado?! Com aquele monte de rugas na testa e um moustache mais velho que eu o cara tem a cara de pau de, assim como uma criança que acabou de fazer algo errado, balançar a cabeça e levantar as mãozinhas dizendo "não fui eu".
O período militar no Brasil foi algo grotesco, não temos como negar a incrível melhora da política do país ao se tornar uma democracia. Foi uma grande vitória para o pais mesmo com o "Moustache" assumindo a presidência da república em um episódio digno de muitas teorias de conspiração que podem até ser verdade (algumas)...
Muitos dizem que ele foi importante para o Brasil pois ele manteve a democracia e etc. assim como muitos dizem que o Maluf foi importante para São Paulo, no entanto, qualquer outro político poderia ter feito todas as obras que o Maluf fez e não ter roubado nada, ou mais realisticamente falando, roubado menos.
Vem então o presidente Lula (outro sucesso contestável na nossa democracia, que na minha opinião foi "dos males o menor") dizer (e laiá) que o Sarney não pode ser tratado como qualquer um, e ainda criticou o "denuncismo".
MEU! COMO ASSIM?!?!?!
Se há uma montanha de denúncias sendo feitas, é porque há uma montanha de coisas para serem denunciadas.
Se o Sarnento não será tratado como uma pessoa comum é em parte (pequena essa parte) pela sua "importância" histórica e em parte (essa muito, mas muito mesmo, maior) pelo fato de ele ser rico, senador e presidente do senado (é, eu sei que senador rico é um pleonasmo).
O que sei também é que o nosso país tem uma constituição que, em algumas partes, tem umas letrinhas pequenas (iguais aquelas das propagandas) que dizem "foto meramente ilustrativa". Pois é, tal constituição diz que somos todos iguais perante a lei, ou seja, somos todos pessoas comuns. Acho que nesse pedaço tem aquelas letrinhas né?!

No mais, o senado brasileiro é como uma Big Band, onde cada senador toca a música que quer, no andamento e na tonalidade que quer, e nós, que somos o Público, tampamos nossos ouvidos e assistimos ao espetáculo. Ainda bem que, assim como as leis desse país, os tampões de ouvido não funcionam direto e já tem agumas pessoas começando a se encomodar com a balbúrdia.

Às vezes tenho vontade de ir até o senado na hora do rush, trancar todo mundo lá dentro e tocar fogo nele. Mas quando o nervosismo passa e eu penso direito, vejo que não adiantaria nada... mesmo porque a maioria dos senadores e de seus acessores não estariam lá dentro na hora do rush, além do mais, quem é que trabalha na hora do rush? Ah, você trabalha? É, eu também... foi mal.

Vamos pensar que há tres categorias de aprendizado:
-A primeira se resume à tentativa e ao acerto. Aprende-se então que a tentativa é correta. O indivíduo que tentou é extremamente competente.
-A segunda seria a sucessão de tentativas e erros até que se acerte o objetivo. O indivíduo que tentou é capaz de aprender.
-A terceira é quando um indivíduo faz uma tentativa e erra e um segundo indivíduo que o observa, entende, e então executa uma tentativa e acerta. O segundo indivíduo é inteligente ao ponto de aprender com o outro.
De cara posso dizer que o povo brasileiro não se enquadra na 1a, uma vez que o Sarney já foi até presidente da república. Agora que ele é presidente do senado, posso dizer também que não nos enquadramos na 3a, pois temos e tivemos a oportunidade de olhar para trás e ver os erros dos passado mas mesmo assim escolhemos os mesmos erros.
Por fim, não posso dizer também, com a certeza da eliminação das outras categorias, que nós nos enquadramos na 2a, isso porque não dá para saber se algum dia ainda acertaremos. A certeza que se tem, ao observar o poder político do país, é que erramos, e só erramos. Apesar desse pessimismo todo, ainda posso dizer que sou otimista a ponto de torcer para que acertemos algum dia, isso significaria também que somos capazes de aprender, que bom né?

Só para deixar mais claro, a BR - 230 é conhecida como Transamargura e Transmiseriana na região norte do país, mas o pessoal que está mais longe, lá em brasília, insiste em chamá-la de Transamazônica... lá vamos nós denovo cometer os mesmos velhos erros de novo! DENOVO?! é... denovo.

domingo, 31 de maio de 2009

Pra onde foi?

Então eu paro de andar e me sento no ponto de ônibus.

Olho para a rua, mas os guarda-chuvas e as pessoas de pé não permitem que eu enxergue qual ônibus está chegando, me levanto. Vejo que não há ninguém sentado, todos estão de pé para poder ver qual ônibus está chegando, ficando nas pontas dos pés e esticando seus pescoços por cima dos guarda-chuvas.

Sento-me novamente.

Começo a observar as pessoas... Trabalham o dia todo e depois de toda a jornada não se dão nem o direito de sentar. Ficam em pé no ponto, para depois ficarem em pé no ônibus lotado, para finalmente poderem se sentar no sofá de casa para ver a novela, o ópio das donas de casa...

As pessoas acham que gostam de novela. Do glamour, da riqueza, do drama, da emoção, da beleza, da fantasia, da alegria e da tristeza, e de outras coisas que também acham que não têm nas próprias vidas. É um engano. Debaixo do nariz global dessas pessoas está o que elas realmente gostam, o sofá.

Depois de 8 horas de trabalho em que não se pode perder um segundo sequer, as pessoas dedicam aquela hora à perda de tempo, à inutilidade, ao "programa em família", ao emburrecimento voluntário que, inconscientemente, é um pedido de um pedacinho do nosso cérebro que com o passar dos dias vai se atrofiando e caducando contra sua vontade. Tal pedacinho chama-se consciência.

É isso mesmo, aquela que quando nascemos ocupa quase todo o cérebro, e à medida que vamos crescendo ela vai diminuindo, sendo que em alguns casos ela some, e em outros ela volta a crescer e passa a oscilar até a hora da nossa morte. A mesma que vai sendo turvada e moldada pelos valores platônicos e aristotélicos que vão sendo passados de geração a geração pelo papai e pela mamãe e pela tia da escolinha e pelo professor da universidade, aquela que às vezes nos impede e outras vezes nos motiva.

Pois é, é esse pedacinho que pede que repousemos nossas bundas em uma superfície macia, fofinha, no calor e no conforto de nossos lares para o corpo poder descansar.

Isso pode até parecer uma coisa boa, mas não é. Quando tal consciência age inconscientemente é sinal de que ela já está muito fraca, cedendo aos medos do fantástico show da vida.

As pessoas se privam de sentar, pois têm medo de perder o ônibus. As pessoas têm medo de perder o ônibus, pois têm medo de chegar tarde em casa e aí pegam um ônibus lotado, se privando, novamente, de sentar. As pessoas têm medo de chegar tarde em casa por ter medo de ser assaltadas,ou pior, por ter medo de perder a novela, e as pessoas tem medo de perder a novela por terem medo de perder tudo aquilo que acham que não têm em suas próprias vidas...

E assim a falta de consciência nos priva de sentar, de tomar aquele cafezinho, ou cervejinha, com os amigos e de esperar pacificamente pelo ônibus que nos levará para casa.

Quem sabe algum dia nossa consciência volte a nos privar até mesmo do uso dos guarda-chuvas, que volte a nos privar do medo de pegar um resfriado, ou de abrir os braços e sorrir com as gotas tocando o rosto e entrando pela boca, ou de se preocupar com que os outros estariam pensando enquanto estivéssemos fazendo tudo isso...

E você? Quando foi a última vez que tomou, conscientemente, um banho chuva?

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Teletransporte

(Bom, nesses últimos tempos estou passando por uma estiagem de inspiração e tempo para escrever, então estou postando aqui um poema antigo que fiz)


Bípedes se movem para o transporte na estação
Se encocham, se encostam, se esfregam,
Se atropelam atravessando a porteira estreita
Se amontoam
Empoleirados em seus quadrados de 30 centímetros
Se esbarram, timidamente.

Os machos devoram com os olhos
Coxas, peitos, rabos.
As fêmeas tentam se preservar
Umas se escondem, outras tentam se mostrar

Olham para o chão, para os lados
Ou qualquer direção.
Através da cerca, do curral, do horizonte,
Enxergam mortamente o nada,
Mesmo sem terem sido abatidos ainda...
Fora do curral tudo é matadouro

Por alguns segundos o transporte pára.
Entram bípedes, saem bípedes... se amontoam,
Se empoleram... é o rodízio.
Um apito sinaliza o fechamento da porteira
O transporte anda.

Todo rodízio é igual
Mais bípedes, menos bípedes, peitos, coxas, rabos,
Rugas, espinhas, fones, bolsas, doenças, sujeira,
Carne, propaganda. Janelas...
Tudo vazio

O calor, o aperto, o desconforto...
Nada disso encomoda.
Caleijamento mental
C O T I D I A N A M E N T E

O transporte pára.
Os bípedes se movem novamente
A viagem termina, e tudo o que se passou
entre o ponto de partida e o ponto de chegada
foi um piscar de olhos,
como um teletransporte.

Enjaulados nascem e são abatidos,
embalados e rotulados
nos supermercados são vendidos
Bípedes depenados, vestidos.
E entre o início e o fim do processo,
um piscar de olhos de vidro
secos e opacos
C O T I D I A N A M E N T E
Como as janelas do metrô.

sábado, 9 de maio de 2009

Em Dó sustenido menor Sonata para piano nº 14 - Opus 27 nº 2


Sonata ao Luar


Adagio sostenuto

quasi una fantasia”...

Era noite. A chuva batia na janela, mas era leve... tão leve que pelas nuvens passava a luz da lua, que iluminava o quarto com um mormaço morto.

No quarto, uma velha, uma defunta, e um mordomo, estáticos.

A tez estava pálida e sob os olhos as olheiras lhe estampavam na cara uma velhice prematura. Os cabelos bem penteados adornavam sua cabeça como se aquilo fosse o seu próprio velório. Os lábios secos e imóveis ainda retinham o pouco de juventude que lhe era arrancada, como uma fruta verde e podre. As mãos frias, cobertas por uma luva branca e fina, ainda tinham forças para segurar firmemente a bandeja de prata.

O corpo já mostrava sinais de degradação, o mau cheiro brotava da carne podre. Falecera já havia algum tempo, é verdade, mas sem banho nem troca de roupas o cheiro empesteava o ar ao seu redor. Ninguém tinha coragem de tocar seu corpo, nem mesmo quem já lhe amara algum dia. Fedia à abandono, à solidão, mesmo com companhia. Ainda assim a expressão com que terminara a vida não era amarga, em sua face tédio e serenidade se perdiam em meio ao nada. As mãos gélidas e duras, com dedos já meio decompostos pelo tempo, tremiam de doença, e os olhos secos e amarelos fitavam aquele corpo com inveja.

O mordomo se inclina, e desfere um passo, e em seguida deste segue um outro. O ranger do chão velho de madeira com as solas dos sapatos pretos e polidos contrapontearam senza surdina com o ranger dos dentes ocos e amarronzados que a velha esfregava movendo de forma quase imperceptível o maxilar.

Ao se aproximar da moribunda o mordomo se inclina com uma das mãos para trás e lhe oferece um copo d’água que repousava sobre a bandeja de prata. A velha entrelaça seus dedos ao redor do copo e, sem retirá-lo da bandeja, move com dificuldade seus olhos em direção à janela. Em seguida move-os de volta e mira o mordomo que, depois de um breve intervalo, lhe acena discreta e positivamente com a cabeça.

A velha retira o copo da bandeja e se levanta, sem pressa e sem esforço.

Era noite. A chuva batia na janela, mas era leve... tão leve que pelas nuvens passava a luz da lua, que iluminava o quarto com um mormaço morto.

No quarto, uma velha, uma defunta, e um mordomo, estáticos.

A velha estica o braço para frente, e sua mão vira, firmemente, como se a doença que lhe afeta os nervos não lhe afetasse a determinação, derramando a água fleumática sobre o rosto da defunta. Um espasmo em sua face quase a faz sorrir. Quando a última gota deixa o copo a velha diz: “Aí está... o seu último banho de chuva.”

Larga o copo, e deixa o quarto.



(Modificado em 24 de agosto, ainda inacabado)

sexta-feira, 24 de abril de 2009

“Sigam a imagem, mas se lembrem do santo”

Gonçalves, Sul de Minas Gerais, uma cidade em que os telefones celulares não pegam, perfeita para um feriado prolongado...
Estava eu sentado numa pracinha, de fronte para uma igreja, quando vejo um aglomerado de pessoas. Era uma procissão. Crianças vestidas de branco andavam na frente, depois vinha o padre e um altar feito de madeira carregado por quatro homens. Nesse altar havia a imagem de um santo e uma tábua que se estendia para cima, cuja ponta estava amarrada a um megafone antigo, voltado para trás (onde estavam as pessoas que seguiam a procissão), pelo qual, através de um fio, o padre falava com os fiéis.
Depois de explicar como seria feito o rodízio das pessoas que carregavam o altar o padre disse uma frase que me chamou a atenção: “Sigam a imagem, mas se lembrem do santo”. Para mim, algo meio desnecessário numa procissão, mas que faz todo o sentido e me fez pensar... metáforas.
Quando voltei do feriado fui assistir o telejornal, afinal, tantas coisas podem acontecer em quatro dias... Vi algo ligeiramente cômico; no STJ, dois juízes, sendo um deles o presidente do próprio tribunal, discutindo com o tom de voz elevado e toda a pomposidade de palavreado que lhes exige aquela roupa ridícula. Vociferavam, com timbre de veludo, um ao outro “Vossa Excelência me respeite!”, e assim desrespeitavam a, já pouco respeitosa e respeitada, justiça brasileira.
O mais incrível foi quando o juiz disse ao presidente o STJ “o senhor desmoraliza a justiça desse país!”, nessa hora eu pensei “agora o circo pega fogo”, mas não, não pegou; na verdade o que aconteceu foi que o dono do picadeiro gargalhou de forma medonha e o palhaço se indignou e disse “saia às ruas! Saia às ruas, presidente”, e o dono do picadeiro respondeu com a pomposidade de um deus onipresente “eu estou nas ruas”, mas não teve nem tempo de respirar, pois o palhaço pegou seu sapatão 42 e rebateu “vossa excelência não está nas ruas, está na mídia!”. Bom, naquela hora o STJ inteiro já estava na mídia.
Ficou claro para o Brasil todo que nenhum dos dois tinha moral para apontar o dedo um para o outro, o que deixou o confronto em pé de igualdade, sujo contra mal lavado.
Eu nunca vi um juiz na rua... É interessante pensar que os representantes da justiça do nosso país não tem moral, e enquanto assistia aquele espetáculo na televisão pensei:
“Vossas excelências NOS respeitem! NÓS não somos seus capangas do Mato Grosso!” Ou será que somos?
DEM e PMDB, PT e PSDB com coligações em alguns Estados, passagens legais para mãe, tio, cachorro, papagaio de parlamentares, que ainda querem aumento de salário! Será que ainda resta, além da moral, algum ideal na política brasileira?Acho que nós, eleitores, capangas do MT, quando fazemos nossa procissão de dois em dois anos e nos ajoelhamos em frente às urnas lembramos muito dos santos e esquecemos que, nesse caso, na realidade não passam de imagens ocas feitas de barro.