sexta-feira, 24 de abril de 2009

“Sigam a imagem, mas se lembrem do santo”

Gonçalves, Sul de Minas Gerais, uma cidade em que os telefones celulares não pegam, perfeita para um feriado prolongado...
Estava eu sentado numa pracinha, de fronte para uma igreja, quando vejo um aglomerado de pessoas. Era uma procissão. Crianças vestidas de branco andavam na frente, depois vinha o padre e um altar feito de madeira carregado por quatro homens. Nesse altar havia a imagem de um santo e uma tábua que se estendia para cima, cuja ponta estava amarrada a um megafone antigo, voltado para trás (onde estavam as pessoas que seguiam a procissão), pelo qual, através de um fio, o padre falava com os fiéis.
Depois de explicar como seria feito o rodízio das pessoas que carregavam o altar o padre disse uma frase que me chamou a atenção: “Sigam a imagem, mas se lembrem do santo”. Para mim, algo meio desnecessário numa procissão, mas que faz todo o sentido e me fez pensar... metáforas.
Quando voltei do feriado fui assistir o telejornal, afinal, tantas coisas podem acontecer em quatro dias... Vi algo ligeiramente cômico; no STJ, dois juízes, sendo um deles o presidente do próprio tribunal, discutindo com o tom de voz elevado e toda a pomposidade de palavreado que lhes exige aquela roupa ridícula. Vociferavam, com timbre de veludo, um ao outro “Vossa Excelência me respeite!”, e assim desrespeitavam a, já pouco respeitosa e respeitada, justiça brasileira.
O mais incrível foi quando o juiz disse ao presidente o STJ “o senhor desmoraliza a justiça desse país!”, nessa hora eu pensei “agora o circo pega fogo”, mas não, não pegou; na verdade o que aconteceu foi que o dono do picadeiro gargalhou de forma medonha e o palhaço se indignou e disse “saia às ruas! Saia às ruas, presidente”, e o dono do picadeiro respondeu com a pomposidade de um deus onipresente “eu estou nas ruas”, mas não teve nem tempo de respirar, pois o palhaço pegou seu sapatão 42 e rebateu “vossa excelência não está nas ruas, está na mídia!”. Bom, naquela hora o STJ inteiro já estava na mídia.
Ficou claro para o Brasil todo que nenhum dos dois tinha moral para apontar o dedo um para o outro, o que deixou o confronto em pé de igualdade, sujo contra mal lavado.
Eu nunca vi um juiz na rua... É interessante pensar que os representantes da justiça do nosso país não tem moral, e enquanto assistia aquele espetáculo na televisão pensei:
“Vossas excelências NOS respeitem! NÓS não somos seus capangas do Mato Grosso!” Ou será que somos?
DEM e PMDB, PT e PSDB com coligações em alguns Estados, passagens legais para mãe, tio, cachorro, papagaio de parlamentares, que ainda querem aumento de salário! Será que ainda resta, além da moral, algum ideal na política brasileira?Acho que nós, eleitores, capangas do MT, quando fazemos nossa procissão de dois em dois anos e nos ajoelhamos em frente às urnas lembramos muito dos santos e esquecemos que, nesse caso, na realidade não passam de imagens ocas feitas de barro.

2 comentários:

  1. São imagens sem santos, parceiro.
    Tá muito legal cara, só falta vc MUDAR O LAY OUT QUE TÁ IGAUL AO MEU PORRA!
    ahahahaha

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  2. Cara, sensacional teu texto, a realidade é que mais do que as imagens ou dos santos, as pessoas se preocupam em carregar o altar de madeira, olhando para o chão, suportando o fardo que lhes foi dado... totalmente alienados... tua descrição quanto ao padre com o megafone foi perfeita, é exatamente o que acontece na politica nesse pais, um sujeito bem vestido, com o microfone na mão, falando o que as pessoas tem que fazer, estas, manipuladas ao extremo, abaixam a cabeça e carregam o fardo! eleições!? cara, a cada dia que passa, tenho a certeza que não será somente nas urnas as mudanças para esse pais, por que de uma forma muito interessante, ninguem ensinou aos brasileiros, como votar e comandar seu proprio pais... somos escravos da ignorância casados pelos capangas dos politicos brasileiros!!! Grande texto cara, parabéns!!!

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